sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Cet Amour

"Esse amor
Tão violento
Tão frágil
Tão terno
Tão desesperado
Esse amor
Belo como o dia
E mau como o tempo
Quando o tempo está mau
Esse amor Tão verdadeiro
Esse amor tão belo
Tão feliz
Tão jovial
E tão irrisório
A tremer de medo como uma criança no escuro
E tão seguro de si
Como um homem sereno em plena noite
Esse amor que assustava os outros
Que os fazia comentar
Que os fazia empalidecer
Esse amor vigiado
Porque nós o vigiàvamos
Perseguido ferido espezinhado consumado negado esquecido
Porque nós o perseguimos ferimos espezinhámos consumámos negámos esquecemos
Esse amor íntegro
Ainda tão vivo
E ainda tão resplandecente
É o teu
É o meu
Aquele que foi
Essa coisa dempre nova
E que não mudou
Tão verdadeira como uma planta
Tão trémula como um pássaro
Tão quente e palpitante como o Verão
Podemos tu e eu
Partir e voltar
Podemos esquecer
E adormecer
Acordar sofrer envelhecer
E voltar a adormecer
Sonhar com a morte
Acordar sorrir e rir
E rejuvenescer
Que o nosso amor permanece
Teimoso como um burro
Intenso como o desejo
Cruel como a memória
Tolo como o remorso
Terno como a saudade
Frio como o mármore
Belo como o dia
Frágil como uma criança
Ele olha-nos a sorrir
E fala-nos sem nada dizer
Eu escuto-o a tremer
E grito
Grito em teu nome
Grito em meu nome
Suplico-te
Em teu nome e em meu nome e em nome de todos os que se amam
E que se amaram
sim Grito
Em teu nome em meu nome e em nome de todos os outros que não conheço
Fica aí
Não te mexas
Não te vás
Nós que somos amados
Esquecemos-te
Mas não nos esqueças tu
Só te tínhamos a ti
Não nos deixes ficar frios
E distantes
E seja onde for
Dá sinal de vida
Mais tarde ao fundo de um bosque
Na floresta da memória
Aparece de súbito
estende-nos a mão
E salva-nos"


Jacques Prévert in Paroles

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007